O Camaro, a Dodge Ram e a Fiorino: por dentro dos carros do Sertanejo

Um dia desses, fui para uma balada de sertanejo. Não costumo frequentar esse tipo de balada, muito menos ouvir músicas do gênero, então, toda a noite acabou servindo como uma grande experiência antropológica para mim. Enquanto me acostumava com as garotas e seus vestidos curtos (no sertanejo parece que eles ficam menores ainda), e com […]

O Camaro, a Dodge Ram e a Fiorino: por dentro dos carros do Sertanejo

Um dia desses, fui para uma balada de sertanejo. Não costumo frequentar esse tipo de balada, muito menos ouvir músicas do gênero, então, toda a noite acabou servindo como uma grande experiência antropológica para mim. Enquanto me acostumava com as garotas e seus vestidos curtos (no sertanejo parece que eles ficam menores ainda), e com os caras de camisa xadrez e chapéu, comecei a reparar num padrão em três músicas que tocaram na seqüência.

Tal qual no Funk Ostentação, o sertanejo (e sua nova vertente, o eletronejo, que por sinal está dominando a Europa) deixou de exaltar a vida boa na casinha da lagoa para por em foco o estilo de vida regada a dinheiro e mulheres. Mas será que é só isso mesmo? Será que não há um lado mais profundo nestes versos tão sinceros? Logo, resolvi fazer este texto para ir a fundo nas letras da nova tara dos músicos de sertanejo: os carros de luxo.

O Camaro Catalisador

Gostaria de começar nossa análise por esta música que narra a história de superação de um rapaz que, após ser recusado varias vezes por uma garota, esbanja o amor da tal moça após adquirir um Camaro amarelo. “Quando eu passava por você, Na minha CG você nem me olhava. Fazia de tudo pra me ver, pra me perceber, Mas nem me olhava.”

Tal história, emula em tantos minutos o drama dos jovens que sofrem ao tentar conquistar uma mulher interesseira. Mas a coisa muda: “E agora você vem, né? Agora você quer. Só que agora vou escolher, Tá sobrando mulher.” Estre trecho mostra como Munhoz e Mariano criticam a instituição financeira que muda o caráter do sujeito que, agora, recusa o amor de sua antiga paixão para viver uma vida fútil cercado de várias mulheres.

A conjectura da Dodge Ram

A priori, esta música Israel Novaes pode parecer vazia e sem sentido, mas esta é quase uma versão musicalizada da Lei da Atração, utilizada pelo movimento do Novo Pensamento e por livros como o best-seller O Segredo. Afinal, o jovem que antes era pobre e ruim de vida, resolve mudar de vida com sua própria determinação: “Só pegava poeira, não olhavam pra mim. Um dia eu decidi, eu vou sair daqui.”

Basta acreditar para conseguir. O rapaz não só consegue alcançar um novo patamar: “Agora eu to mudado: O meu bolso tá cheio, mulherada atrás“, mas como também se permite a liberdade de cantar com ojeriza sobre sua vida antiga: “Quem não tem dinheiro é primo primeiro de um cachorro. O trem era tão feio que nem sobrava osso pra mim.”

O Paradigma da Fiorino

Quem nunca viu um sujeito dirigindo uma Land Rover com uma baita gostosa do lado e não disse “Nesse carro, até eu pegava”. Gabriel Cava, não só pensou na situação, como resolveu musicalizar este sentimento em uma letra composta de quatro quartetos. Por muitos anos dirigi um Ipanema e vivi na pela situação do rapaz. Sempre que arranjava uma gata, sabia que era amor verdadeiro e não interesse.

Mas é claro, que apesar de não ser um carro de luxo, a Fiorino também possui seus requintes: Um som potente, “Corneta ta torando, grave empurrando tudo, Twitter balanceado, as menina chegando junto”; e um aconchegante ninho do amor, “Se a coisa ficar quente, meu amor, não se esquece, Que lá no fundo tem, tem uma colchonete”. Além de ensinar o amor verdadeiro essa música te fala para não julgar um livro pela capa, afinal, o conteúdo é que importa.

E você? Lembra de alguma música de sertanejo com algum significado profundo?

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Edson Castro
Edson Castro

Jornalista, ilustrador, apaixonado pela vida e por viver aventuras. Coleciona HQs, tênis e boas histórias para contar.

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